‘Ah, Bibi, que é a coisa mais linda que existe…’

Bibi Ferreira está acostumada a ser aplaudida de pé antes de qualquer espetáculo. Logo que é anunciada, onde quer que esteja, a cena se repete. Para desfazer o ar solene, Bibi Ferreira encontrou uma saída bem humorada: “Muito obrigada, do fundo do meu coração. E todos nós agradecemos antecipadamente. Pode ser que depois do show vocês não estejam tão entusiasmados”. De modo sutil, ela diverte de cara. E o público, ansioso pelas primeiras palavras da grande dama do teatro brasileiro, cai na gargalhada e relaxa.

Foi assim na abertura do show “Bibi Ferreira canta o repertório de Frank Sinatra”, na reinauguração do Teatro Serrador, no Centro do Rio. Nada de engraçado na vida de Sinatra (que teve passagens trágicas, aliás), mas o roteiro é repleto de deixas para que a artista, de 93 anos, extravase a veia cômica que conduz todo o espetáculo. A volta de Bibi Ferreira ao teatro em que deu início à carreira, em 1941, fica leve. O chamado peso da idade, ou da história, definitivamente não serve para ela.

– Maestro, eu acho, então, que esta música tem a ver com idade – brinca Bibi, quando o maestro Flávio Mendes anuncia que a próxima canção parece que foi feita especialmente para ela.

Trata-se de “You make me feel so young”.

– Não falei? Aliás, vocês sabem quantos anos eu tenho, não é? 333.

Bibi Ferreira no Teatro Serrador: 75 anos depois

Bibi Ferreira no Teatro Serrador: 75 anos depois Foto: Bernardo Costa / coisasdamusica

E quando interpreta uma canção do repertório de Sinatra com Jobim, fica no ar a dúvida se o que conta antes da música de fato aconteceu ou é mais uma ironia de Bibi Ferreira: “Dindi”, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, teria sido feita para ela, que canta a letra da seguinte maneira: “Ah, Bibi, se soubesses o bem que eu te quero…”. O público dá risada.

É que há uns 3oo anos atrás eu era muito bonitinha. E o que eu podia fazer? As pessoas se apaixonavam. E o autor da letra dessa canção se apaixonou perdidamente por mim. Não vou dizer o nome dele, Aloysio de Oliveira. E ele disse pra mim: “olha, querida, ‘b’ é uma consoante muito agressiva, eu vou colocar diferente e você vai ver como vai dar certo. Mas é dedicada a você, do fundo da minha alma, meu amor”

Brincadeiras à parte, há os momentos em que a artista interpreta o drama de algumas canções. “My way”, que assistimos no vídeo que abre este texto, é uma delas. Podemos traçar um paralelo com a vida de Bibi Ferreira. As escolhas, o caminho a seguir. Para chegar aos 93 anos e poder cantar à frente de uma orquestra, por exemplo, a atriz teve que optar por abolir um hábito: falar ao telefone. Nos dias de hoje, é ou não é um drama?

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Bibi Ferreira e o maestro e guitarrista Flávio Mendes Foto: Bernardo Costa / coisasdamusica

 

Créditos adicionais:

Foto de capa: Bernardo Costa / coisasdamusica

“Bibi Ferreira canta o repertório de Frank Sinatra” – Roteiro de Bibi Ferreira, Nilson Raman e Flávio Mendes

“You make me feel so young”, de Josef Myrow e Mack Gordon

“My way”, versão de Paul Anka para a música “Comme d’habitude”, de Jacques Revaux e Claude François

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