Instituto João Donato é lançado com o Bloco Emoriô

Músicos amigos de João Donato colocaram o bloco Emoriô na rua no domingo pós-Carnaval, o derradeiro da folia. A homenagem ao artista marcou também a inauguração do Instituto que leva o seu nome, em Santa Teresa. A sede, que antes era na Urca, funciona agora numa casa que parece ter sido escolhida a dedo para abrigar (em forma de projetos, atividades e acervo) a diversidade rítmica e sonora do pianista, arranjador e compositor brasileiro. O evento foi aberto ao público, com palco montado sob uma lona de circo, num quintal cercado de verde.

“O bloco é uma homenagem dos músicos dele. É a galera da banda do João que se reuniu e botou pra frente esse movimento com o apoio do Instituto, que está sendo inaugurado junto com o Emoriô. Veio o Arimatéa, que juntou os metais, e aí veio o Robertinho Silva. A maioria dos músicos da banda, assim como eu, viajou e conviveu muito em 2014 em razão da turnê dos 80 anos do João pela Europa. Somos uma grande família, explicou Mihay, que é um dos fundadores do novo espaço, ao lado do sócio-fundador Eduardo Ohm.

O barulho e cheirinho de chuva deixaram o ambiente ainda mais acolhedor. Quem chegava podia se abrigar em qualquer lugar: um quarto de porta aberta, nas mesinhas de pé alto espalhadas na sala, ou no quintal para assistir à passagem de som. Uma digna domingueira, com reencontros, abraços, gente fantasiada atrás daquele “chorinho” da folia. Na varanda, sentado no banquinho de um dos pianos (há dois na casa), o percussionista Robertinho Silva dava as boas-vindas a quem chegava. Amigo de João Donato e parceiro de palco há 40 anos, ele ministrará oficinas no espaço a partir do mês de abril.

“Dança percussiva mistura movimento corporal com a sonoridade da percussão. Esse projeto deu origem a um álbum, feito há 3 anos na Itália ao lado de uma brasileira radicada lá, a Claudia Belchior, e agora estou trazendo para cá em forma de oficina. Os movimentos são realizados concomitantemente à percussão, tocando mesmo. É uma proposta diferente que pode ser executada num lugar que tem portas abertas para a criatividade. E só poderia ser. Estamos falando de João Donato, com quem eu tenho “apenas” 40 anos de amizade. Ouço o Donato desde os anos 60 através do rádio. Eu ter conhecido ele foi a realização de um sonho de garoto. Ele era uma das pessoas com que eu sonhava tocar um dia e isso aconteceu”, revelou Robertinho Silva.

João Donato no pós-Carnaval do Rio. Foto: Matheus Assunção

Tempero da casa

Enquanto os músicos aqueciam, as caipirinhas de limão e maracujá desfilavam coloridas. Canjiquinhas e sopas de ervilha também passavam fumegantes entre a galera. Um cheiro de tempero delicioso saía da cozinha e tomava conta da casa inteira. Tudo fresquinho, preparado na hora e vendido a preço justo.

A cozinha, aliás, será uma forma de geração de renda para programas desenvolvidos no Instituto, que não conta com patrocínio e é presidido por Ivone Belém, esposa de João Donato. Ela conta que a equipe espera a colaboração solidária da rede movimentada pela música. No espaço funcionará, além das oficinas, programa de residência artística para alunos internacionais. O primeiro grupo já está até fechado: é de Portugal e chegará em maio.

“A ideia é produzir um trabalho coletivo de compacto em vinil com a participação de Donato e da cantora Tulipa Ruiz. Os músicos vão morar aqui, criar e pensar juntos a diversidade rítmica do artista. O Instituto João Donato será morada da música, da arte. Abrigará saraus e outros eventos, aproximando uma turma que já vive essa aura de encontros pensantes produtivos”, avalia Ohm, que acrescentou que o bloco Emoriô seguirá este início de ano uma curta temporada. Já foram fechadas apresentações na Fundição Progresso e no Instituto Europeo de Design (IED) .

Robertinho Silva com Maria Clara Coelho, Zé Luiz Maia e Pacato. Foto: Matheus Assunção

Inglês agradecido

No cair da tarde, o bloco mostrou a que veio. Sucessos de Donato embalados por instrumentos diversos levantaram a plateia. O inglês Andrews Staffell, baterista e fã de Donato, estava lá. Chegou ao local seguindo as ondas sonoras que tomaram conta da pousada onde estava hospedado, na mesma rua do Instituto, em Santa. Quando soube da homenagem e da presença do artista, não conseguiu esconder a alegria e confessou:

“Agora sim! Vim atrás da grande música brasileira e nos grandes blocos de carnaval senti falta disso. Ouço Gilberto Gil, Gal Costa, João Gilberto. Gosto muito mesmo. Com certeza, depois de duas semanas no Rio, este será o melhor dia. Um presente inesquecível em minha primeira experiência no Brasil”, revelou ele.

E o homenageado chegou de mansinho na casa. Primeiro, ficou observando a festança da sacada de um dos quartos, numa relax, no vaivém de uma rede. Ao escutar os gritos do público que entoava seu nome, foi se levantando devagarinho, ensaiando passinhos em direção ao palco. No caminho, uma pausa para fotos e relembrar uma foto P&B em que está cercado pelas cantoras Roberta Sá, Fernanda Takai e Bebel Gilberto.

João Donato foi conduzido até o palco debaixo de um guarda-chuva carnavalesco transparente com pequenas luzes coloridas. Abriu os trabalhos com “Bananeira” e e fez o espetáculo acontecer, ao lado de Júlio Diniz (bateria), Robertinho Silva (percussão), José Carlos Bigorna (sax), Gilmar Ferreira (trombone), Maria Clara Coelho (percussão), Zé Luiz Maia (baixo), Pacato (percussão), Ricardo Pontes (sax), Luiz Otávio (teclado), José Arimatéa (trompete), Mihay e Luana Mallet (vocal). Um desfecho histórico para o carnaval de 2020, com ÁGUA para abençoar!

 

Créditos adicionais:

Foto de capa: Matheus Assunção

Vídeo: Images, Beatriz Cruz / edição, Bernardo Costa

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