Gerações na história de Sérgio Mendes
O contrabaixista André de Santanna olha atento para Sérgio Mendes, na passagem de som para o show no Blue Note Rio. Pelo sinal do líder do conjunto, tudo ok. Sérgio Mendes sente-se bem entre jovens músicos. Faz brincadeiras, dá risada, fala gíria. Para a arte, fundamental encontro de gerações, que, no caso de André de Santanna, tem um detalhe a mais. Ele é neto do embaixador Mário Dias Costa, o responsável pela ida de Sérgio Mendes para os Estados Unidos, onde o brasileiro tornou-se uma celebridade internacional e onde vive até hoje.
Como chefe da Divisão Cultural do Itamaraty, Mário Dias Costa esteve envolvido na organização do concerto de bossa nova no Carnegie Hall, em 1962. Na ocasião, assim como a maioria do grupo, Sérgio Mendes fez sua estreia nos Estados Unidos. E por lá ficou, como Tom Jobim e João Gilberto. Dois anos depois, o embaixador organizou uma excursão de Sérgio Mendes e Brazil 65′ pelas universidades norte-americanas.
Por telefone, de Los Angeles, André de Santanna lembra dos encontros com o avô, que apostou no potencial da música brasileira e se empenhou para divulgá-la no exterior.
– Passava os verões com ele em El Salvador, onde ele era embaixador na década de 1990. Eu devia ter uns 6 anos. Lembro que ele ouvia os clássicos do jazz, discos de Count Basie e Frank Sinatra. E usava ternos elegantes. Quando ele contava histórias, todos paravam para ouvir – diz André de Santanna em entrevista ao portal Coisas da Música.
Por acaso
Quando era adolescente e morava com a família em Los Angeles, André frequentava churrascos na casa de Sérgio Mendes. “Eu brincava com os filhos dele”, lembra. Na adolescência, aos 15 anos, Sérgio Mendes e Mário Dias Costa não viram a iniciação musical e os progressos de André no contrabaixo, que começou no instrumento por influência do pai, o contrabaixista Antônio Santana.
– As famílias perderam contato nessa época e meu avô já havia falecido – diz André.
Em 2014, o reencontro com Sérgio Mendes foi por acaso. Quando o pianista precisou de um contrabaixista para uma gig, o baterista Mike Shapiro indicou André de Santanna, que despontava em Los Angeles e tocava no grupo Eyedentity, com Diana Purim, filha de Airto Moreira e Flora Purim. No estúdio, houve entrosamento. Ligação que se tornou mais forte quando Sérgio Mendes se deu conta do grau de parentesco.
Hoje, quando rodam o mundo em excursões, André conta que o pianista costuma comentar:
– Seu avô deve estar feliz vendo a gente lá de cima.
Novo CD
André de Santanna tem 34 anos e vive em Los Angeles. No momento, faz shows internacionais com Jason Mraz e Sérgio Mendes, com quem grava novo CD, ainda sem título. Como contrabaixista, produtor, compositor e técnico em mixagem, atuou em trabalhos de Bebel Gilberto, Ziggy Marley, Zee Avi e Herb Alpert – outra pessoa importante na trajetória de Sérgio Mendes.
Certamente o leitor vai se lembrar do LP “Herb Alpert Presents Sérgio Mendes & Brazil 66′”.
Histórias que se entrelaçam.
Crédito adicional
Foto de capa: Alexandre Brum / brumfotos
www.brumfotos.com
Banda de Sérgio Mendes: Sérgio Mendes (piano), André de Santanna (baixo), Leonardo Costa (bateria), Kleber Jorge (violão/guitarra), Brendon Coleman (teclados), Gracinha Leporace e Katie Hampton (vocais) e Harroll ‘H2O’ Harris (rapper).