As imagens de um show histórico
Para muitos o ano começa agora, depois do Carnaval. Porém, para Mauricio Einhorn (gaita), Hector Costita (sax tenor) e Joseval Paes (guitarra e violão), 2019 começou, de fato, em janeiro. Mais precisamente no dia 11, quando o trio, em formação inédita, se apresentou no Blue Note Rio. Entre standards do jazz e clássicos da bossa nova, uma canção em especial arrebatou o público: “A rosas não falam”, de Cartola. A sonoridade original da interpretação, baseada na improvisação musical, marcou o ponto alto do encontro histórico entre Costita e Einhorn, dois pioneiros na fusão entre o samba e o jazz na música brasileira. O show foi registrado pelo fotógrafo Alexandre Brum, que colocou sua arte a serviço do momento.
Com produção do portal Coisas da Música, o evento aconteceu numa sexta-feira de calor no Rio e atraiu um público de várias idades. No tema de Cartola, a roupagem jazzística trouxe um sabor especial ao clássico “As rosas não falam”. A formação com sax, gaita e violão contribuiu para a fluência da melodia, que parecia flutuar pelo ambiente.
– Eu sabia que conhecia a música. Mas da maneira como eles tocaram eu nunca tinha ouvido. Quando identifiquei a canção e percebi que eles estavam criando em cima, foi demais – disse o jornalista Renan Schuindt após o show.
No espetáculo, o entrosamento do trio também pôde ser visto nos standards norte-americanos e nas composições de Einhorn, como “Burlesque” e “Curta-Metragem” (com Arnaldo Costa), e os clássicos em parceria com Durval Ferreira: “Batida Diferente”, “Estamos Aí” (também com Regina Werneck) e “Tristeza de Nós Dois” (com Bebeto Castilho). Músicas que tiveram inúmeras regravações e marcaram a trajetória da bossa nova.
– Reunir os criadores de uma linguagem é um trabalho de memória e resistência. Foi uma noite de boa música e conhecimento – comentou a turismóloga Thaís Rosa Pinheiro.
Hector Costita e Joseval Paes tocam juntos há 25 anos. E estão comemorando “bodas de prata”, como brinca o saxofonista. Mauricio Einhorn se juntou a eles no ano passado, quando os três se encontraram pela primeira vez em Tatuí, em São Paulo, onde Paes dá aulas no conservatório de música da cidade e preparou uma homenagem ao gaitista na escola. O encontro foi na casa do guitarrista. A afinidade foi imediata.
Tocar “As Rosas não Falam” foi uma sugestão de Mauricio Einhorn, que gosta de incluir no repertório de seus shows clássicos da música popular brasileira não identificados com o jazz ou a bossa nova. É o caso de “Assum Preto” (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira) e “Carinhoso” (Pixinguinha e Braguinha) que, para Einhorn, deveria ser o hino nacional.
Hector Costita e Joseval Paes costumam fazer o mesmo. Durante show no Bar dos Descasados, no Hotel Santa Teresa, em 9 de julho de 2017, a dupla percebeu certo desinteresse da plateia pelos temas de jazz. Começaram a atacar sambas conhecidos de todos. Deu certo, e o público formou uma audiência cativa em frente aos artistas.
Nesses momentos, o que Mauricio Einhorn, Hector Costita e Joseval Paes conservam é a marca da interpretação jazzística, com fraseados que surgem na hora e ornamentam a melodia principal. O que eles querem para 2019 é isto: aproximar o público da música instrumental, criando vínculos que podem surgir de forma inesperada.
Crédito adicional:
Foto de capa: Alexandre Brum / brumfotos.com