Marcados pela bossa
A turnê do pianista escocês Robert Inglez pelo Brasil foi de Norte a Sul. Por todos os estados que passaram, os instrumentistas da banda procuravam sair à noite para ver o que acontecia. Era o ano de 1958 e, no Rio, encontraram a bossa nova, que nascia. O interesse pelo estilo musical mudou a vida de pelo menos um deles, o saxofonista argentino Hector Costita, que ficou no Brasil desde então e celebra, no próximo sábado, os 60 anos da bossa no Bottle’s Bar, no Beco das Garrafas, em Copacabana. Aos 83 anos, em plena atividade.
Hector Costita adotou a música brasileira e influenciou nos acontecimentos. Pelo menos um disco que gravou, em 1964, é considerado histórico. O LP “Você ainda não ouviu nada!”, de Sérgio Mendes e Sexteto Bossa Rio, reuniu Costita, os trombonistas Edson Maciel e Raul de Souza, o baterista Edison Machado, o baixista Tião Neto e o pianista Sérgio Mendes – a nata do samba-jazz, a vertente instrumental da bossa nova.
O disco, que teve arranjos de Tom Jobim e Moacir Santos, é cultuado por instrumentistas e apreciadores de música do mundo inteiro e foi resultado da temporada do conjunto no Bottle’s Bar, em 1963. A mesma boate que recebe Hector Costita neste sábado.
– É muito emocionante poder voltar 60 anos depois ao lugar em que participei do movimento que deu início à bossa nova. Você não acha que é um privilégio? – diz o saxofonista em entrevista ao portal Coisas da Música, que produz o show.
Privilégio concedido pelo próprio ofício. Para Costita, manter-se dedicado à música é o que garante sua longevidade:
– Procuro estar sempre ativo. Agora mesmo trabalhava em um arranjo para um quitento de saxofones quando o telefone tocou.
Joseval Paes
Ao lado de Costita no show de sábado está o guitarrista Joseval Paes, com quem o saxofonista completa 25 anos de parceria e mais de 2.500 apresentações.
Joseval também tem uma relação especial com a bossa nova. Em 1978, tinha 10 anos quando um aluno de seu pai, o guitarrista José Paes (Pernambuco), presenteou o professor com o LP “The Composer of Desafinado Plays”, o primeiro de Tom Jobim, gravado nos Estados Unidos em 1964.
Joseval ouvia o disco todos os dias.
– Eu ficava curtindo o som e sonhando com o Rio – lembra o guitarrista.
Com a audição, a vontade de tocar. Joseval queria ser baterista e batucava as canções do LP em qualquer canto da casa, em São Paulo, onde o pai se fixou em 1948, vindo de Pernambuco.
Em 1981, quando passou a acompanhá-lo na noite de São Paulo, Joseval decidiu-se pela guitarra e pela música como profissão. Aos 15 anos, tinha todas as harmonias do LP de Jobim debaixo do dedo.
– Nessa época, eu tocava caixa durante o dia naquelas bandinhas de porta de loja, com farda tipo militar, e à noite era guitarrista nas gafieiras de São Paulo – lembra Joseval.
O duo
Mais tarde, em 1987, um amigo de Joseval deu a dica: “Você está muito bem. Tem que tocar com a turma do Costita”. As palavras do músico João de Deus profetizaram o encontro, que só aconteceu em 1993. Na época, Costita voltava para São Paulo depois de ter passado 10 anos na Europa.
– Eu o convidei para uma apresentação e ele passou a me chamar para diversos trabalhos. No Hotel Renaissance, chegamos a fazer 10 shows por semana durante quatro anos – diz Joseval.
Ao falar sobre os 25 anos de parceria com Costita, o guitarrista usa a mesma palavra que o saxofonista destacou:
“Privilégio”.
Retorno
Confira no vídeo acima o registro do show no Bottle’s Bar, no dia 18 de fevereiro de 2017. O evento marcou o retorno de Hector Costita ao Beco das Garrafas 54 anos depois da temporada com Sérgio Mendes e Sexteto Bossa Rio.
Créditos adicionais
Foto de capa: Alexandre Brum / brumfotos.com
Show!!!! Vai ser um excelente show!