Jazz com tempero latino

Dia 18 de setembro, segunda-feira. Os músicos foram chegando, cada um a seu tempo, no estúdio Áudio Rebel, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. No intervalo de seis horas, foi gravado o CD com o registro de um show que marcou a cena instrumental carioca este ano: o tributo a Miles Davis e a John Coltrane, com o baterista Roberto Rutigliano e o grupo de músicos que o cerca.

Do CD “A música de Miles & Coltrane”, participam os contrabaixistas Sérgio Barrozo e Alex Rocha, o pianista Marcelo Magalhães Pinto, o trompetista Altair Martins, o saxofonista e flautista Widor Santiago e o percussionista Didac Thiago, além de Rutigliano. Ao folhearmos o encarte, os nomes de Cliff Korman (piano), Idriss Boudrioua, Fernando Trocado (sax), Jefferson Lescovich (contrabaixo), Jessé Sadoc e José Arimatea (trompete) também aparecem. Eles participaram de alguns shows, mas não estão no CD, que foi gravado por Pedro Azevedo.

Quem acompanha Roberto Rutigliano na noite do Rio ainda pode citar outros músicos, como o pianista Tomás Improta e os guitarristas Marcos Amorim e Alexandre Carvalho. Todos fazem parte de um time convocado por Rutigliano sempre que o baterista consegue alguma apresentação.

– A cada noite a formação muda de acordo com a agenda de cada músico. Isso é bom, porque sempre apresentamos um tempero diferente – comenta Rutigliano em entrevista ao portal Coisas da Música.

Sérgio Barrozo, Marcelo Magalhães Pinto e Roberto Rutigliano durante a gravação Foto: Bernardo Costa/coisasdamusica

Busca por espaços

E este ano a turma teve trabalho. Com perfil empreendedor, Rutigliano emplacou shows em casas como o próprio Áudio Rebel, o restaurante Oscar, a livraria Arlequim e o Hotel Santa Teresa. Em maio, uniu-se a uma produtora e arrendou o Clube dos Democráticos, tradicional reduto do samba no Rio, para o tributo a Miles e Coltrane. Para o baterista, a gravação do CD celebra o projeto.

– O show foi bem sucedido o ano inteiro, as apresentações lotaram. É importante gravarmos o CD para fecharmos um ciclo e partirmos para outros projetos no ano que vem – diz Rutigliano.

Os arranjos trazem referências aos ritmos latinos. Na gravação de “All Blues” (Miles Davis), por exemplo, o baterista sobrepôs uma levada de samba ao ritmo original. Foi uma das surpresas que surgiram no momento da gravação.

– A ideia do diálogo entre o jazz e a música latina tem inspiração em Chucho Valdés e Conrad Herwig. Queremos mostrar ao mundo que o músico brasileiro sabe improvisar e tem boa sonoridade. O jazz é um patrimônio do Brasil também, desde Pixinguinha – explica Rutigliano, que dá aulas de bateria na Escola Pró-Arte, em Laranjeiras.

Roberto Rutigliano e Altair Martins no estúdio Áudio Rebel Foto: Bernardo Costa/coisasdamusica

Formação de público

O baterista nasceu na Argentina e está no Rio desde a década de 1990. Há cerca de oito anos, deu início aos shows em homenagem aos ícones do jazz, começando por Bill Evans. Aos poucos, foi arrebatando um público que hoje o segue na noite do Rio. Muitos deles são jovens que passaram a se interessar pelo gênero. Especialmente no Áudio Rebel, eles aparecem em peso. E se manifestam:

– Alguns já vieram me dizer que passaram a ouvir jazz a partir das nossas apresentações. Eles perguntam referências, querem saber mais. Isso é maravilhoso.

O CD “A música de Miles & Coltrane” está à venda no estúdio Áudio Rebel e nas apresentações do grupo. A agenda está na página de Roberto Rutigliano no Facebook. Para o ano que vem, o artista prepara três projetos: um show com músicas próprias, apresentações em Buenos Aires com o Afro Trio e um Tributo a Charlie Parker.

Créditos adicionais

Foto de capa: Bernardo Costa/portal Coisas da Música