O garoto prodígio prepara álbum solo

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Cainã Cavalcante toca uma das canções do CD ‘Corrente’ Foto: Bernardo Costa / coisasdamusica

A volta para casa era o momento mais aguardado da manhã. Ainda com a roupa da escola, Cainã Cavalcante colocava as caixas de som no chão da sala de casa e deitava no meio. Dessa forma, era como se elas fossem um grande fone de ouvido. Ali mesmo adormecia, pouco antes da hora do almoço. Em momentos assim, ainda na infância, o jovem violonista “abria a porta para a música fazer morada” em sua vida. Ela fez. E agora pede passagem no CD “Corrente”, que depende de financiamento coletivo para a gravação. (link no fim da matéria)

“Corrente” é um álbum de violão solo, com nove composições próprias. É a música que flui de Cainã. Delicada e sutil, bravia e forte, como as alternâncias do curso de um rio. Denso. Inevitável.

– Eu não toco violão por opção. Sinto que a música me escolheu e que eu tenho uma missão a desempenhar – diz Cainã Cavalcante em entrevista ao portal Coisas da Música, no apartamento da produtora Cibele Bahia: – Apenas abri a porta e a música fez morada em minha vida.

E ela foi buscar Cainã na cidade de Aquiraz, no litoral do Ceará. Quando o irmão pediu um violão de aniversário, foi Cainã quem se interessou pelo instrumento. Havia uma família de músicos na casa em frente. O garoto pegou o pinho e apertou a campainha. Tinha 7 anos de idade.

– Me ensina a tocar isso aqui – pediu ao vizinho.

Cainã Cavalcanti toca violão para o padrinho Patativa do Assaré Foto: Arquivo pessoal

Cainã Cavalcante toca violão para o padrinho de batismo, Patativa do Assaré Foto: Arquivo pessoal

Patativa do Assaré

A arte já estava ao redor. Ronaldo Cavalcante, seu pai, compositor e artista plástico, era ilustrador na Imprensa Oficial do Ceará. Admirava Patativa do Assaré, que visitou a redação num dia comum de trabalho. Só então o pai de Cainã teve certeza que o poeta popular não era uma lenda do Nordeste. Ele existia! Desenvolveu-se uma amizade entre os dois e Patativa fez um pedido a Ronaldo: gostaria de ser o padrinho de batismo de seu primeiro filho.

Cainã nasceu em 17 de junho de 1990, em Fortaleza, no Ceará. Sua mãe, Dona Telma Veras, costuma dizer que fazia um belo dia de sol.

– Lembro do Patativa lá em casa, deitado na rede, recitando, conversando com meu pai. Depois que eu tive a dimensão do que significa ser afilhado dele e de quem era aquele senhor… Uma pessoa de uma genialidade infinita e de uma simplicidade grandiosa… Acho que encontrei um caminho. A lembrança dele me faz colocar o pé no chão – diz o violonista.

No CD “Corrente”, Cainã dedica a faixa “A vida no sertão” para o padrinho. A composição e a interpretação são carregadas de sentimento e memória: das viagens até a cidade de Assaré para visitá-lo, dos passeios na feira, da casa simples, dos momentos em que tocava para ele na varanda.

Patativa do Assaré também o apadrinha no primeiro CD, “Morador do Mato”, em que declama versos de “Vaca Estrela e Boi Fubá”. O disco foi prouzido pelo violonista Manassés de Sousa, em 2001.

No Rio

Na época das fotos de arquivo que ilustram esta matéria, Cainã Cavalcante era apontado na imprensa do Ceará como garoto prodígio. Ao ouvirmos o repertório de “Corrente”, apresentado na Casa do Choro, no Centro do Rio, entendemos o porquê: há virtuosismo em seu trabalho.

As músicas de “Corrente” foram feitas a partir de sua vivência no Rio, e parte delas homenageia músicos que o acolheram na cidade e são seus incentivadores: a começar pelo violonista Zé Paulo Becker, a quem Cainã dedica “PoiZé”. “Vento Sul” e “Forró gaúcho” vão para Yamandu Costa e Bebê Kramer:

– Eu vim ao Rio pela primeira vez em 2013, a convite do Zé Paulo, que me deu abrigo e amparo na cidade. Ele me pegou pela mão e me apresentou para a cena musical: “olha, tem o Cainã aqui…”

Com Zé Paulo Becker, Cainã gravou o álbum “Parceria”, em duo, em 2015.

– Depois de “Morador do Mato”, veio o CD “Samburá” (com produção de Raimundo Fagner) e o “Parceria”. Há um processo de evolução neles. Desde o primeiro, em que não há nenhuma música minha; ao “Corrente”, de violão solo, só com composições próprias e arranjos meus.

Benfeitoria

O CD “Corrente”, o quarto da carreira de Cainã Cavalcante, depende de financiamento coletivo para o lançamento. Faltam 14 dias para o fim da campanha. Saiba como contribuir pelo site benfeitoria.com/cainacavalcante.

 

Créditos adicionais

Foto de capa: Bernardo Costa / portal Coisas da Música

Vídeo “Cainã Cavalcante – A Vida no Sertão” – Imagens e edição: Bernardo Costa / portal Coisas da Música

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4 Resultados

  1. Cibele Bahia disse:

    uau! que maravilha!!! parabéns pela matéria e pelo site!!

  2. bianca e. ramos disse:

    Amei parabens garotinho voce,e dez.

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