O grande encontro: Hector Costita, Helio Delmiro e Joseval Paes
Joseval Paes costuma dizer que aprendeu a tocar samba ouvindo as gravações do guitarrista Helio Delmiro. Quando os dois se encontraram no palco do Botlles Bar, no Beco das Garrafas, na noite em que Joseval fazia show ao lado do saxofonista Hector Costita, a admiração era visível até mesmo na linguagem corporal do artista. Em “Love For Sale”, depois do solo final do ídolo, Joseval terminou a música de Cole Porter com apenas uma nota. Enquanto ela ressoava, o guitarrista punha as duas mãos para trás e voltava-se para Helio Delmiro. O corpo ereto, em posição solene. Aplausos do público.
– A minha maior referência na música brasileira são as gravações do Helio Delmiro com a Elis Regina. Aqueles bends que fiz foram em homenagem a ele, que termina a música “Essa Mulher”, no disco da Elis, com um bend, uma esticada de corda. E isso sempre me impressionou – comentou Joseval ao portal Coisas da Música logo após o show, no dia 27 de janeiro.
No palco, o depoimento foi diante da plateia:
– Eu ouvi 700, 800 vezes as mesmas gravações. E hoje uso muitos recursos com inspiração nele. Este momento é uma honra inacreditável – disse Joseval.
Helio Delmiro retribuiu:
– Eu não sabia que ia chegar aqui e encontrar um guitarrista do seu nível. Você não copia nada, você toca do seu jeito. E dá continuidade a uma história, como aconteceu comigo em relação ao Baden Powell.
Improvisação
Helio Delmiro havia acabado de tocar na boate ao lado, o Little Club, onde se apresenta todos os sábados. A canja no Bottles Bar foi a convite de Hector Costita, que fez seu terceiro show no local desde fevereiro de 2017. As apresentações, com produção do portal Coisas da Música, marcam o retorno do saxofonista ao berço da bossa nova, onde Costita fez temporada com Sérgio Mendes e o Sexteto Bossa Rio em 1963. O resultado foi a gravação do LP “Você ainda não ouviu nada!”, de 1964.
Estar de volta tem emocionado o artista. No fim de “I Love You”, outra música de Cole Porter que os três tocaram juntos, é possível ouvir Costita dizer: “Que lugar fantástico!”. A expressão traduzia o que todos sentiam naquele momento. O Beco das Garrafas, mais uma vez, era o ambiente de uma performance de excelência da música brasileira.
A criatividade, o bom gosto, o senso estético e a originalidade aparacem nas frases musicais que surgem na hora. A plateia silencia diante da arte.
Diálogos
As perguntas e respostas, as ideias que se complementam são fascinantes. Hector Costita e Helio Delmiro conversam musicalmente em vários momentos. E sorriem. Sentem o prazer que a música proporciona a quem a ela se dedica de forma verdadeira e vital.
É bonito quando em “Minha Saudade”, de João Donato e João Gilberto, Costita como que cria um segundo refrão, que Delmiro emoldura com a cadência a que Joseval se referiu. Ou mesmo quando o saxofonista deixa de tocar, e passa a curtir os colegas.
Depois da participação especial, não havia muito o que dizer:
– Não se ouve isso em discos. Quem viu, viu – resumiu Costita.
Créditos adicionais
Foto de capa: Victor Andrade/portal Coisas da Música
Fui um dos privilegiados assistinda a todas as apresentações no Rio.
Grande Geraldo! Obrigado pela presença e apoio. Abraços
Parabéns.
Legal, Aloisio, obrigado por comentar!