Maurício Einhorn: a sinceridade de um pioneiro

Maurício Einhorn é um devoto da arte. Quando lhe perguntam se tem religião, o pai da gaita no Brasil, em atividade desde o fim dos anos 1940, responde convicto: música. A “conversão” foi bem cedo. Maurício Einhorn tinha 5 anos quando chorou pedindo aos pais uma gaita, instrumento que ambos tocavam em casa. Aos 84 anos, é dono de uma obra original, pioneira por aqui quando o assunto é jazz. É o cara da batida diferente.

No cômodo em que dá aulas, em casa, no bairro do Leme, ME tem seu arquivo. LPs, CDs, cartazes de shows, fotos de família, uma mensagem de Tom Jobim e a imagem de Charlie Parker, seu ídolo. Para Einhorn, o saxofonista americano é o maior de todos os tempos naquilo que mais o fascina: a improvisação musical.

– Tornei-me um escravo disso – diz o artista em entrevista ao Portal Coisas da Música: – Só mesmo um fanático como eu para ficar preso à gaita no Brasil por tanto tempo. Mas o dinheiro não é tudo na vida.

O fanatismo sadio que o faz citar, com precisão, nomes, datas, títulos de filme ou qualquer outro acontecimento ligado à música que tenha sido importante em sua trajetória:

– Você já viu o filme “Música e lágrimas”, com a história do Glenn Miller? Pois veja. Eu vi três vezes e chorei nas três. É com o ator James Stewart.

Em casa: Maurício Einhorn aponta para retrato de Charlie Parker Foto: Frame de vídeo/coisasdamusica

Em casa: Maurício Einhorn aponta para retrato de Charlie Parker  Foto: Frame de vídeo/coisasdamusica

Antes da bossa

Maurício Einhorn é um dos artistas que atuaram numa fase de renovação estética da MPB, nos anos 50, quando surgiram músicos que passaram a alterar as divisões rítmicas comuns, utilizando harmonias elaboradas. A coisa deu em bossa nova.

– Eu fui um dos que quebraram diferente, como Miltinho, os músicos do Waldir Calmon, Johnny Alf, João Donato… enumera Einhorn, citando músicos que considera pré-bossanovistas: – O João Gilberto veio e triplicou isso tudo.

Improvisação musical

Ouvir Maurício Einhorn, com ou sem gaita, é uma aula. Até mesmo uma piada se torna instrutiva. Mas voltemos à improvisação musical, a essência do jazz. Um dos pioneiros do gênero no Brasil, Maurício Einhorn explica: fazer escala não é improvisar. 

Ele mesmo se deu conta disso numa das primeiras jam sessions de que participou. Era 1954, e Maurício Einhorn estava na boate do Hotel Plaza, na Avenida Princesa Isabel, em Copacabana, ao lado de Johnny Alf, Luiz Eça, Ed Lincoln, Paulo Ney e outros que vinham para dar canja.

Já naquela época, aos 22 anos, Maurício Einhorn tomou notas num diário particular, que guarda até hoje:

(…) Independência de pensamentos, ideias, acordes, frases, ritmo, técnica; tudo funcionando no desenvolvimento de uma linha melódica improvisada. (…) Conseguir, aliado a tudo isso, subentender o tema escolhido, tendo, a cada momento, instintivamente, o contato, por imaginação, com a harmonia de cada compasso e cada trecho, ainda que sem ouvi-lo.

Estava lançado um desafio pra vida toda.

 

Créditos adicionais

Foto de capa: Frame de vídeo – Bernardo Costa / portal Coisas da Música

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3 Resultados

  1. Paulo R. C. Barros disse:

    Muito bom.

  2. Fatyma Silva disse:

    Demais! Lindo trabalho! adorei! Eles são demais! Viva a música Brasileira!

  3. Muito obrigado por visitarem o portal Coisas da Música. Até uma próxima. Abraços

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