Onde se pratica a liberdade musical

Os músicos preparavam o encerramento de “Chovendo na roseira”, de Tom Jobim, quando o saxofonista Carlos Malta e Eduardo Guedes, na guitarra, passaram a dar as mesmas notas simultaneamente. Era como se lessem o pensamento um do outro, ou tivessem a mesma opinião num diálogo musical. O momento encerra o vídeo acima, registrado na jam session de número 300 do Allbrazz Quarteto, na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), na Tijuca. É lá que, há seis anos, os instrumentistas se reúnem todas as segundas-feiras para a prática da liberdade criativa. O portal Coisas da Música foi conferir.

– Aquelas notas entre vocês dois foram combinadas? – pergunta um jovem que assistia encostado ao balcão, e se aproxima de Eduardo Guedes.

– Foi ao acaso. Eu como que percebi os caminhos que ele seguia – responde o guitarrista.

Outros papos acontecem, pessoas se conhecem e artistas se relacionam numa noite em que as catracas do clube são liberadas. Os que chegam são sócios da boa música. O couvert é opcional e, como diz o baterista Luisinho Sobral, ajuda na volta pra casa.

Luisinho é o mestre de cerimônias da jam session e faz parte do Allbrazz Quarteto, ao lado de Eduardo Guedes, Alexandre Berreldi (contrabaixo) e Breno Hirata (saxofone), que destacamos no vídeo a seguir, junto com o tecladista Leandro Freixo.

O jazz começa num bar

A criação da jam session começa com um cara chamado Armindo Brasil, um tijucano aposentado, amante do jazz e da cerveja, que resolveu unir os dois prazeres e passou a levar DVDs de jazz para o bar que frequentava. O estabelecimento fica na esquina da Rua Caruso com a Haddock Lobo, caminho corriqueiro do baterista Luisinho Sobral, que, atraído pelo som, tornou-se frequentador do botequim e amigo de Armindo.

– Passei a gostar mais de cerveja também – confessa Luisinho.

“Ele me ligou e disse: ‘tem que tocar’! Aquilo ficou no meu coração”

Ao mesmo tempo, Milton Lisboa, então presidente da AABB, insistia para que o baterista montasse um evento de jazz no clube. Como o gênero estava longe de ser uma unanimidade no bar, até mesmo com manifestações hostis por parte de alguns frequentadores, Luisinho convocou uns amigos e deu início à jam session.

– Eu tinha acabado de voltar pro Brasil e o Luisinho me ligou – lembra Leandro Freixo: – Tinha sofrido um dhoque cultural muito forte e não queria mais saber de música. Estava estudando para um concurso quando o telefone tocou e ele me disse: “Tem que tocar!”. Essas palavras ficaram no meu coração.

Leandro voltou a tocar e formou o primeiro conjunto da casa com Luisinho e o baixista Geferson Horta, e hoje é presença constante nas canjas, que acontecem no segundo set.

Primeiro cachê

A noite de número 300 da jam session também festejou a parceira entre Carlos Malta e Luisinho Sobral, que começaram a carreira juntos, no antigo Teatro de Bolso, no Leblon, em 1977. Foi para poder participar desse show que Carlos Malta tirou a carteira de músico profissional. Tinha 17 anos, assim como Luisinho, que diz ter recebido seu primeiro cachê na ocasião.

Pode ser que, na semana que vem, eles toquem juntos de novo na AABB.

– O jazz no Brasil é pra teimoso. Mas a gente gosta, fazer o quê? – diz Malta.

 

Créditos adicionais:

Foto de capa: Bernardo Costa / portal Coisas da Música

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