O início de uma parceria
As apresentações de Joseval Paes no Rio, ao lado do saxofonista Hector Costita, têm impressionado os que não o conheciam. O gaitista Maurício Einhorn é um deles. No intervalo do show de janeiro, no Bottles’s Bar, Einhorn aproximou-se do guitarrista de São Paulo e sacou um elogio inusitado: “Pode ir para casa, olhar-se no espelho e dizer: ‘eu me amo!'”. Os dois trocaram contatos. Era o começo de uma nova parceria, cuja estreia nos palcos se dá nesta sexta-feira, no mesmo Bottle’s Bar, no Beco das Garrafas, em Copacabana.
Poucos dias depois do encontro, Einhorn telefonou. E, no dia 18 de março, Joseval estava de volta ao Rio para visitá-lo em seu apartamento, no Leme. Logo nos primeiros temas, a afinidade musical se confirmou. Coisas da Música registrou o momento.
– Você parece um estenógrafo da guitarra. Parabéns – comentou o gaitista, de 85 anos, ao fim da música “Burlesque” (Maurício Einhorn/Arnaldo Costa).
Einhorn se referia à facilidade e rapidez com que Joseval assimilava suas músicas, algumas feitas há 50 anos. Por meio das mesmas influências do jazz e da bossa nova, que teve no gaitista um de seus principais compositores, as gerações se comunicavam. Joseval Paes estava diante de um ídolo.
– Tenho uma ligação muito forte com a linha que o Maurício segue. Nós ouvimos as mesmas coisas. E várias músicas dele me acompanham desde que eu comecei a tocar. Receber esses elogios, para mim, é uma honra – diz Joseval, de 50 anos.
Maurício Einhorn confirma as referências:
– Encontramos uma afinidade de gosto muito grande, tanto pelos standards da bossa nova quanto pela música dos norte-americanos.
É o que se pode esperar para o repertório do show desta sexta-feira. E, quem sabe, uma composição feita em parceria pelos dois.
– Estamos caminhando nessa direção – antecipa Maurício Einhorn.
Lições com o pai
O contato de Joseval Paes com a obra de Maurício Einhorn foi por intermédio de seu pai, o guitarrista José Paes, o Pernambuco, que lhe ensinou as primeiras lições. Em abril, quando Einhorn foi a São Paulo para o show “80 Anos de Gaita”, na Caixa Cultural, Joseval deu uma canja. No programa, constava apenas “Alone Together”, mas a dupla tocou outros quatro temas. Em um almoço na casa de Joseval, o guitarrista mostrou o violão em que aprendeu as músicas de Einhorn ainda na adolescência. “Estamos Aí” e “Batida Diferente” foram as primeiras.
– Foi inacreditável. Nós estávamos na mesma sala em que aprendi as músicas com meu pai – contou Joseval.
No show de São Paulo, Einhorn citou o guitarrista Pernambuco. Os dois não chegaram a se conhecer, mas tiveram amigos em comum. Joseval, que estava no palco com a guitarra que pertenceu ao pai, fez conexões com a sua história naquela noite. Além da memória afetiva familiar, veio à tona a lembrança do primeiro emprego como músico profissional. Foi há 35 anos, no Clube Lilas, na rua que fica atrás da Caixa Cultural.
Aniversário
Joseval Paes é professor no Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos, na cidade de Tatutí, em São Paulo. É o maior conservatório da América Latina, que programa, para o dia 22, uma grande homenagem a Maurício Einhorn. Haverá um show envolvendo a big band, o conjunto de jazz e os alunos de artes cênicas da instituição, com a participação do gaitista, que completa 86 anos sete dias depois. À tarde, Maurício Einhorn e Joseval Paes darão um workshop para os estudantes de música.
Créditos adicionais
Foto de capa: Bernardo Costa/portal Coisas da Música
“Burlesque”: Música de Maurício Einhorn e Arnaldo Costa
“Alone Together”: Música de Arthur Schwartz e Howard Dietz
“Batida Diferente”: Música de Maurício Einhorn e Durval Ferreira
“Estamos Aí”: Música de Maurício Einhorn e Durval Ferreira