Uma nova obra a partir dos rascunhos de Tom Jobim

Foi como numa caçada ao tesouro que o gaitista José Staneck debruçou-se sobre o acervo de Antônio Carlos Jobim. Objetivo: encontrar os rascunhos que o compositor de “Garota de Ipanema” havia escrito para gaita e que permaneciam inéditos desde os anos 1950. Staneck tinha uma pista, soprada por Paulo Jobim, filho de Tom, durante uma conversa.

– Olha, tem umas coisas de gaita no acervo do meu pai…

Foi o suficiente. Consultas e mais consultas e lá estavam os tais rascunhos, as linhas melódicas para a composição que Tom Jobim deixara inacabada. O material estava junto, na mesma pasta, com a inscrição “Concertino Romântico para Gaita e Orquestra”. Coube ao compositor Aluisio Didier terminar o projeto. A obra, em três movimentos – “Andante em Poço Fundo”, “Blues do Morro” e “Allegro em Ipanema” -, foi apresentada pela primeira vez no Rio de Janeiro na terça-feira, dia 20.

No Teatro Tom Jobim, no Jardim Botânico, Aluisio Didier anunciou a composição, que foi executada pela Orquestra Sinfônica Cesgranrio, sob a regência de Eder Paolozzi e com José Staneck como solista. Tinham início as comemorações pelos 90 anos de Antônio Carlos Jobim, data celebrada em 25 de janeiro próximo:

– Essa música surgiu a partir do convite de José Staneck e sua irmã Georgina, que acharam alguns compassos escritos de um projeto que o Tom acabou não levando adiante. Como compositor, essa parceria póstuma com o grande Tom Jobim me estimulou muito.

Paulo Jobim apresenta a ‘Suíte Mítica’ pela primeira vez Foto: Bernardo Costa / portal Coisas da Música

Edu da Gaita

Pouco antes da apresentação, no camarim, José Staneck dava mais detalhes sobre o Concertino para a equipe do portal Coisas da Música (Veja vídeo no alto da matéria):

– O que o Tom deixou escrito foram dois motivos curtos independentes, duas inspirações. O Didier pegou esse material e deixou fluir toda a referência que ele tinha de Jobim para unir os dois motivos numa única obra, em três movimentos. É mais uma peça para o repertório da gaita dentro da música de concerto.

Para Paulo Jobim, músico e arquiteto, os rascunhos do pai eram destinados a Edu da Gaita (1916-1982):

– Eu sei que o meu pai fez uns arranjos para o Edu da Gaita, de quem era amigo. Então, para ele fazer um concertino para gaita, só poderia ser para o Edu, que era um grande virtuose do instrumento.

Suíte Mítica

Apesar de ter feito sua estreia no Rio no último dia 20, o “Concertino Romântico para Gaita e Orquestra” foi gravado no DVD “Contraponto 3”, por José Staneck e Orquestra Sumaúma, com regência de Aluisio Didier. O registro, no mesmo Teatro Tom Jobim, não foi aberto ao público.

No DVD, lançado em 2014, também está a “Suíte Mítica”, de Paulo Jobim, que você ouve no vídeo acima. Após a apresentação do Coral Sidney Marzullo, ela foi a primeira obra executada na noite do dia 20, no seguintes movimentos: “Onça e Passarinho”, “Juriti”, “Saci” e “Sinaá”.

– A música tem a ver com lendas indígenas que me inspiraram um pouco… Eu gostava muito de um livro dos irmãos Villas-Bôas contando algumas dessas lendas. Já tinha ideia de fazer isso há muito tempo; só fui fazer agora  – contou Paulo ao portal Coisas da Música.

E vem mais homenagens por aí.

– Eu vou participar de uns concertos que o Mario Adnet está preparando, com gravação de DVD e orquestra – antecipa Paulo Jobim.

 

Créditos adicionais

Foto de capa: Bernardo Costa / portal Coisas da Música

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4 Resultados

  1. Estive na homenagem e foi uma das noites mais importantes da minha vida, pois além de conhecer o Paulo, tive a oportunidade de vê-lo tocar. A orquestra e essa composição do Tom/Didier é maravilhosa! Foi ótimo poder revê-la através desta bela matéria. Parabéns!

  2. Fábio Ferreira Brito disse:

    Bernardo, como tudo que Jobim produziu, essa obra para gaita deve ser um deslumbre. Que preciosidade! Agora, bateu uma baita curiosidade. Abração.

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