O garimpo do Ouro Negro: novos projetos

No mesmo quarto em que transcreveram, instrumento por instrumento, boa parte da obra de Moacir Santos, Mario Adnet e Zé Nogueira pensam em novos projetos. A pedido do portal Coisas da Música, a dupla se reuniu para um bate-papo sobre a obra do maestro pernambucano, a quem prestam homenagem nesta terça-feira, no palco da Sala Cecília Meireles, no dia em que Moacir faria 90 anos de idade. No vídeo que abre esta matéria, um trecho do ensaio para a homenagem.

Enquanto preparam o concerto com a Orquestra Ouro Negro, Mario Adnet e Zé Nogueira elaboram planos. A certa altura da conversa, as ideias surgem em torno do arranjo do maestro para a música “Capim”, de Djavan. A gravação fora feita em Los Angeles para o LP “Luz”, do cantor alagoano. Zé Nogueira estava lá, tocou sax soprano e insistiu com Djavan para que convidasse Moacir, que morava na cidade americana desde 1968.

Zé Nogueira e Mario Adnet: o trabalho pelo legado de Moacir Santos Foto: Beatriz Cruz/coisasdamusica

Nogueira e Adnet: transcrições de ouvido das Coisas de Moacir  Foto: Beatriz Cruz/coisasdamusica

Mario Adnet, então, quer saber:

– Zé, quantos sopros eram, você lembra?

– Quem gravou o segundo trombone foi o Raulzinho (Raul de Souza) – responde Zé Nogueira – O Moacir levou um trompetista que tocava com ele e um flautista chamado Steve Kujala.

– Então era trompete, flauta…?

– …E os sopros do Djavan: Moisés, no trombone; eu e o Marquinhos, que tocava sax tenor, alto e flauta. O arranjo tem duas flautas, dois trombones, trompete, sax tenor e soprano.

– Então, isso dá um caldo hein…

Mario Adnet no estúdio: ensaio com a Orquestra Ouro Negro  Foto: Bernardo Costa/coisasdamusica

Regravações

A proposta de Mario Adnet e Zé Nogueira é regravar o arranjo de Moacir para a música de Djavan:

– A gente tem a ideia de colocá-la às avessas e fazer do arranjo a música – antecipa Zé Nogueira.

Outra possibilidade que os músicos vislumbram é a de “engordar” alguns arranjos do maestro para novos registros de sua obra.

– Não se trata de acrescentar vozes, porque isso não precisa… Mas de encorpar o som, pois acredito que os discos americanos do Moacir não tiveram mais músicos por restrições de orçamento – diz Adnet.

Nessa linha, duas músicas a serem trabalhadas são “Quermesse” e “Anon”.

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Zé Nogueira entre Andreia Ernest Dias e Marcelo Martins Foto: Bernardo Costa/coisasdamusica

Ouro Negro

O trabalho que Mario Adnet e Zé Nogueira desenvolvem desde 2001, quando criaram a Orquestra Ouro Negro para executar as composições de Moacir Santos, é de garimpo da obra do maestro. “Moacir Santos – Ouro Negro”, CD duplo lançado no mesmo ano, foi o primeiro tratamento da pedra fundamental de um dos “compositores-fonte” da música brasileira, segundo palavras de Zé Nogueira: as músicas intituladas “Coisa”.

As composições foram registradas no LP “Coisas”, de 1965, o único gravado por Moacir Santos no Brasil.

– É uma música que tem poder curativo. Todos nós sentimos isso quando tocamos – diz Mario Adnet.

“Moacir Santos é um compositor-fonte da música brasileira”

A orquestra existe graças a um trabalho árduo da dupla. Como não havia partituras disponíveis, os músicos transcreveram, de ouvido, todas as “Coisas” de Moacir Santos após obterem uma fita master do álbum. Foram três meses de encontros diários. Com a audição, veio a decisão de manter a sonoridade do disco.

Não se preocuparam em reproduzir à perfeição o que foi feito. Mais do que isso: sentiram a necessidade de “trazer para o Brasil”  o que foi gravado nos Estados Unidos por Moacir Santos com músicos americanos, nos discos lançados pela gravadora Blue Note.

– Tocamos com músicos brasileiros, sem seguir o que foi feito lá fora, principalmente em relação à bateria e à percussão – explica Zé Nogueira.

A Orquestra Ouro Negro ensaia para a homenagem aos 90 anos de Moacir Santos Foto: Bernardo Costa/coisasdamusica

A orquestra ensaia para a homenagem a Moacir Santos  Foto: Bernardo Costa/coisasdamusica

Documentário

Moacir Santos participou ativamente do trabalho de resgate de sua obra empreendido por Mario Adnet e Zé Nogueira. Desde o início do projeto, vinha ao Brasil quando necessário. Foram momentos em que o maestro matou as saudades da terra natal, e pôde viver a glória de ser aclamado pelo público de seu país depois de mais de três décadas no exterior. Toda sua passagem por aqui foi registrada em vídeo e será lançada em documentário.

Aí o alcance do que Mario Adnet e Zé Nogueira fizeram será ainda maior. Até aqui, basta dizer que o trompetista Wynton Marsalis conheceu a obra de Moacir Santos por meio de “Ouro Negro” e passou a incluí-la no repertório da Orquestra Jazz at Lincoln Center. Segundo declarou Marsalis, Moacir Santos é o Duke Ellington brasileiro.

Mario Adnet, Moacir Santos e Zé Nogueira Foto: Marcílio Godoy

Mario Adnet, Moacir Santos e Zé Nogueira Foto: Marcílio Godoy

 

Créditos adicionais

Foto de capa: Bernardo Costa / Portal Coisas da Música

Vídeo “Orquestra Ouro Negro: Ensaio”. Gravado no estúdio Floresta, Rio de Janeiro, 25/07/16. Imagem e edição: Bernardo Costa / portal Coisas da Música.

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3 Resultados

  1. jose fernando de andrade disse:

    Zé Nogueira e Mário Adnet tomaram conhecimento desde de 2013 quando fizeram o Festival Moacir Santos , aqui em Recife , no Teatro Moacir Santos, que Eu estou lutando para preservar a obra de Moacir Santos, com suas canções, pelo um trabalho de inclusão social, formando uma orquestra de flauta doce, com teoria musical, aprendizado de instrumento, naipes, e formação da ORQUESTRA DE CÂMARA MOACIR SANTOS, cuja iniciativa em curso com o Pedido de Registro em Cartório.

    • José Fernando de Andrade, muito obrigado pelo contato. Rendemos tributo a Moacir Santos em nosso portal e estamos felizes em vê-lo por aqui. Faremos uma entrevista com você, ok? Todo apoio ao seu projeto! Abraços

  2. jose fernando de andrade disse:

    Grato pela sua atenção.

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