Luiz Gonzaga manda entregar o chapéu

Luiz Gonzaga: O Rei do Baião admirava Hermeto Pascoal

Luiz Gonzaga admirava Hermeto Pascoal Foto: Irmo Celso / Veja

Já imaginaram o que sairia do encontro musical entre Luiz Gonzaga e Hermeto Pascoal? O Rei do Baião, inventor da MPB, com o Bruxo do Som, o inventor da invenção. Apesar dos esforços de pessoas próximas, isso nunca aconteceu. Hermeto lamenta, mas entende que a vida quis assim. E filosofa: “às vezes, o que não se vê é mais importante do que aquilo que se vê”. Eles não se viram, mas se ouviram e se estimaram à distância.

Para Hermeto, Luiz Gonzaga é referência fundamental desde os tempos iniciais em Alagoas, Pernambuco e Paraíba, regiões em que o Rei do Baião já era considerado mito quando o multi-instrumentista impressionava os primeiros ouvintes com sua sensibilidade musical, em meados da década de 1950. Anos depois, quem se impressionava era Luiz Gonzaga.

– Ele me chamava carinhosamente de “Doido”, por causa da música, dos acordes… – lembra Hermeto, em entrevista ao portal Coisas da Música, por telefone.

Hermeto Pascoal durante show em MG: o Bruxo tem guardado um chapéu dado por Luiz Gonzaga. Foto: Rubi Bodanese / Divulgação

Hermeto tem guardado o chapéu dado por Luiz Gonzaga. Foto: Rubi Bodanese / O Tempo

Gonzaguinha

Ao longo da carreira dos dois, Hermeto Pascoal conta que recebeu inúmeros recados de Luiz Gonzaga, a maior parte deles repassados por seu filho Luiz Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha, figura constante nas apresentações do Bruxo, de quem era fã:

– O Gonzaguinha sempre aparecia nos meus shows, e eu sempre falava com ele: “E aí, cadê o homem?”. Lembro que muitas vezes ele dizia que o pai tinha ido para Pernambuco. Quando o Luiz Gonzaga não tinha muito o que fazer, ele corria pra terra dele. Então, ficava difícil de a gente se encontrar. Era uma coisa que não era para acontecer mesmo.

“Ele me chamava carinhosamente de Doido, por causa da música”

Os desencontros se repetiam até que Gonzaguinha apareceu com uma surpresa: um chapéu que Luiz Gonzaga mandava de presente para Hermeto Pascoal:

– Ele virou para o Gonzaguinha e disse: “Já que a gente não veio nesse mundo para se conhecer pessoalmente, então entrega este chapéu pra ele, o Doido” – diz Hermeto, que guarda o objeto até hoje.

Dominguinhos

Outro amigo em comum que tentou unir os dois foi Dominguinhos, afilhado musical de Luiz Gonzaga:

– Lembro de falar com o Dominguinhos e ele prometer que ia me juntar pra ver o Luiz Gonzaga. Não acredito que ele não quisesse não, até porque mandou o chapéu de presente pra mim.

Com Dominguinhos, sim, Hermeto se relacionou, e felizmente temos registros desse encontro musical. No vídeo acima, da websérie “Dominguinho + Hermeto Pascoal”, os dois tocam Juazeiro e Asa Branca, clássicos da dupla Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.

Dominguinhos no acordeom e Hermeto na flauta baixo e escaleta. Com esse instrumento, aliás, o Bruxo – ou Doido – faz um solo de improviso em Asa Branca, enquanto o parceiro mantém a base dispondo acordes na sanfona como um pianista de jazz. Esta aí uma amostra do que puderíamos ter se Gonzaga e Hermeto tivessem um dia se encontrado.

Ficou o chapéu de lembrança.

 

Créditos:

Foto de capa: Rubi Bodanese / O Tempo

Vídeo de Juazeiro e Asa Branca: Dominguinhos, safona; Hermeto Pascoal, flauta baixo e escaleta. Websérie “Dominguinhos + Hermeto Pascoal: Dió, Fubá e Zezum, 2014. Direção: Felipe Briso. Postado no YouTube por Dominguinhos Mais

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