Hector Costita: no lugar certo, na hora certa

Oúltimo show da turnê foi no Rio de Janeiro, no ano de 1958. Ao lado do pianista escocês Robert Inglez, estava o saxofonista Hector Costita. Com mais três músicos, formavam um quinteto de jazz, que partira de Buenos Aires para excursionar pelo Brasil. No meio da apresentação, um pedido de canja. Foi o momento decisivo para que Costita, nascido em Buenos Aires, em 1934, decidisse ficar no Brasil.

– Apareceram dois sujeitos querendo dar uma canja com a gente. Um deles era o contrabaixista Shu Viana, e o outro, o pianista João Donato – lembra Hector Costita, que recebeu a equipe do portal Coisas da Música em sua casa, na Vila Madalena, em São Paulo, para uma entrevista que começa com as lembranças daquela noite:

– Tocamos juntos e eles gostaram de mim, tanto que o Shu estava para estrear na Baiúca, em São Paulo, e perguntou se eu não ficaria no Brasil. Lembro que ele ligou para o dono da boate, acertou tudo, e eu topei.

Hector Costita: as lembranças dos tempos da bossa  Foto: Bernardo Costa/coisasdamusica

Recordações

Hector Costita ficou por aqui. Em sua casa, há um cômodo onde guarda as memórias musicais. Pelas paredes, fotos dos primeiros tempos. Shu Viana está lá, ao lado do baterista Milton Banana, num dos inúmeros conjuntos formados na noite paulistana, no fim dos anos 50, início dos 60.

Em outra imagem, Costita nos mostra músicos de destaque reunidos no auditório da Folha de São Paulo para um festival. Com o dedo, como aparece no vídeo abaixo, aponta quem é quem: os saxofonistas J. T. Meirelles e Bolão, o trompetista Maguinho, o guitarrista Heraldo do Monte, o contrabaixista Luiz Chaves e o baterista Rubinho Barsotti, entre outros.

Sexteto Bossa Rio

Hector Costita chegou na hora certa, no lugar certo. A bossa nova surgia, a música brasileira se renovava. Como músico de jazz, Costita se aliou a ela e foi um dos artistas que usaram seus temas para improvisações jazzísticas, nas boates de São Paulo e do Rio de Janeiro, especialmente na Baiúca e no Beco das Garrafas. Naquela ano de 1958, Costita foi atraído pelo novo som:

– Esse foi um dos motivos pelos quais eu fiquei no Brasil. Eu estava muito interessado no que estava acontecendo em matéria de música: “Meus Deus, o que é isso?”.

O mesmo espanto foi Costita quem causou, seis anos depois, no LP “Você ainda não ouviu nada!”, de Sérgio Mendes e Bossa Rio. O disco é tido como um marco da música brasileira.

O saxofonista Hector Costita em frente ao muro de sua casa, na Vila Madalena, em São Paulo Foto: Bernardo Costa/coisasdamusica

Hector Costita em frente ao muro de casa, na Vila Madalena  Foto: Bernardo Costa/coisasdamusica

– Os arranjos, o conceito harmônico, os improvisos, tudo ainda é muito atual. Isso é o mais interessante desse disco, os músicos comentam até hoje. Foi um encontro muito feliz, que não acontece sempre. Poder estar com esses músicos fantásticos foi um privilégio pra mim.

Os músicos fantásticos são: Sérgio Mendes (piano), Tião Neto (contrabaixo), Edison Machado (bateria), Raul de Souza e Edson Maciel (trombones) e Aurino Ferreira (saxofone), que gravou em duas faixas. O LP teve arranjos de Tom Jobim e Moacir Santos. Nas palavras de Costita, “foi um encontro que só acontece uma vez na vida”.

Vamos ouvir:

 

Créditos adicionais

Foto de capa: Bernardo Costa / portal Coisas da Música

Vídeo “Hector Costita – sobre jazz e bossa nova”. Música: “Ela é carioca” (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), LP “Você ainda não ouviu nada!”, Sérgio Mendes e Bossa Rio, Philips, 1964. Imagens e edição: Beatriz Cruz / Portal Coisas da Música

Vídeo “Hector Costita – memórias fotográficas”. Música: “Le Roi” (David N. Baker), LP “Impacto”, de Hector Costita Sexteto, Fermata, 1964. Imagens: Bernardo Costa. Edição: Beatriz Cruz / Portal Coisas da Música

Vídeo com o LP “Você ainda não ouviu nada!”, Sérgio Mendes e Bossa Rio, Philips, 1964. Postado no YouTube por Canal de zebuzios.

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2 Resultados

  1. Helio Reichert disse:

    Bernardo, parabéns pelo excelente trabalho, resgatando grandes nomes da musica Brasileira.

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