Armando Pittigliani contesta filme sobre Elis Regina

Com seu livro de memórias praticamente pronto, o produtor fonográfico Armando Pittigliani arruma frases para emendar um fato recente à narrativa: a forma como foi retratado em “Elis”, a cinebiografia da cantora Elis Regina, do diretor Hugo Prata. Fará um desagravo a si mesmo.

No filme, Armando Pittigliani aparece sentado à mesa de seu escritório diante de Elis Regina e do pai dela, recém-chegados ao Rio de Janeiro. O diálogo que se dá entre os personagens, segundo Pittigliani, retrata o oposto do que aconteceu na vida real:

– O personagem Armando Pittigliani vira-se para Elis e diz que na gravadora se vende o almoço para pagar a janta, e pede que ela volte depois. Ainda colocaram o personagem dizendo algo do tipo: “toma aqui um pixuleco”… Isso quase me matou! – diz o produtor ao portal Coisas da Música.

Para Pittigliani, o filme deu a entender que ele descartara Elis Regina.

– O que aconteceu foi o contrário. Assim que ela chegou ao meu escritório nós assinamos contrato e gravamos imediatamente, começando por “Menino das laranjas” (Theo de Barros), “Sou sem paz” (Adylson Godoy) e “Arrastão” (Edu Lobo e Vinicius de Moraes).

Pittigliani prossegue:

– A Elis era uma cantora de iê-iê-iê e bolero. Foi comigo que ela deu a guinada para a MPB e se tornou a maior cantora do país. Esse é o maior orgulho da minha carreira – diz o produtor que atuou por 38 anos na gravadora Polygram (hoje Universal Music), onde revelou nomes como Sérgio Mendes, Jorge Ben e Tamba Trio.

Pittigliani foi o produtor dos primeiros discos de Elis no selo Philips Foto: Bernardo Costa

Resposta

Por e-mail, Hugo Prata deixa clara a sua posição:

– Não acredito que no filme passamos a ideia de que o Pittigliani fizera pouco caso da Elis. Cuidei, com o casting e texto, para que o diálogo não tomasse esse rumo. A cena mostra que houve apenas um adiamento de datas. O Pittigliani explica que, com o inesperado golpe militar de 1964, só teria agenda nos estúdios em agosto daquele ano, e reafirma sua admiração e compromisso com ela – diz o diretor ao portal Coisas da Música.

Nesse ponto há um conflito de datas na história. Armando Pittigliani garante que conheceu Elis Regina em dezembro de 1964, no Teatro Álvaro Ramos, em Florianópolis. Portanto, depois do golpe militar de 1º de abril. E que, ao lhe entregar um cartão nos bastidores, pediu que o procurasse no Rio, em fevereiro de 1965.

– Fizeram uma confusão entre os produtores. O diretor que colocaram como Armando Pittigliani no filme não era eu, mas sim algum produtor da CBS, gravadora com a qual a Elis rescindiu o contrato para assinar comigo, na Philips.

A lenda

Quanto às imprecisões, o cineasta explica que “diversos acontecimentos foram adaptados a fim de contar a história do que levou a Elis Regina, essa mulher tão forte, que precisou combater a ditadura, o machismo e a censura, a ter um desfecho tão trágico e prematuro”. Hugo Prata deixa um recado para o produtor:

– Gostaria de dizer para o Pittigliani que ele é um mito. E sobre os mitos sempre vão existir as lendas. Melhor ele se acostumar, pois cada um me contou a história de um jeito.

Neste contexto, é oportuna a frase que encerra o filme “O homem que matou o facínora”, do diretor John Ford, um clássico do cinema:

Quando a lenda é mais interessante que o fato, publique-se a lenda.

Fica a reflexão.

 

Créditos adicionais:

Foto de capa: Bernardo Costa/portal Coisas da Música

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1 Resultado

  1. Maria disse:

    Publique-se a lenda, mas os envolvidos, como é o caso do Armando Pittigliani, têm todo o direito e dever (como informação verdadeira para com o público) de publicar o fato.

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